O que era para ser uma aposta ousada do governo Lula na valorização do magistério pode ser revelar um verdadeiro tropeço. Estamos falando do Pé-de-Meia Licenciaturas.
Lançado com pompa em janeiro, o programa conseguiu preencher pouco mais da metade das vagas disponíveis. A proposta era distribuir 12 mil bolsas, mas apenas 6.532 estudantes atingiram os critérios exigidos.
Mas calma. Isso não significa que as pessoas não estão querendo receber a bolsa oferecida pelo governo federal.
O plano, criado para incentivar os melhores alunos a seguirem carreira docente, esbarra em uma série de exigências que acabam afastando justamente quem deveria ser atraído.
O que se sabe sobre a atual situação
Considerando as informações oficiais divulgadas pelo Ministério da Educação, é possível afirmar que o critério de entrada exige que o estudante tenha tirado uma nota acima de 650 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Esta é uma nota muito acima da média exigida nos cursos de licenciatura, por exemplo.
Também já se sabe que apenas 14 alunos entraram com bolsa do Prouni. Nenhum aluno do Fies foi contemplado, e todos os estudantes do EaD foram excluídos.
O Ministério da Educação também confirmou que universidades como USP, Unesp e Unicamp ficaram de fora, mesmo usando a nota do Enem.
Mas por que o programa empacou
Especialistas da área de educação estão de olho nesta situação, e elencam os motivos para essa baixa adesão ao programa do governo federal.
- Critérios de entrada elitistas: Exigir 650 pontos no Enem deixa de fora a maior parte dos interessados.
- Restrição à modalidade presencial: Mais de 77% dos alunos de licenciatura estudam a distância, e todos foram desconsiderados.
- Desprezo por universidades estaduais: USP, Unesp e Unicamp, as que mais formam professores, estão fora do alcance do programa.
- Auxílio considerado baixo: Apesar de pagar R$ 1.050 por mês, o valor não convence jovens a trocar carreiras promissoras pela sala de aula.
- Contexto desestimulante da profissão: Salários baixos, falta de respeito e insegurança afastam os talentos da docência.
O que diz o MEC
Ciente desses números, o Ministério da Educação, pasta responsável pelo desenho do programa, já se pronunciou.
O MEC disse que abriu uma segunda chamada, com inscrições até 18 de dezembro. Estudantes que entrarem no segundo semestre poderão receber o retroativo.
A pasta também argumentou que houve aumento de 60% no número de matriculados com nota acima de 650 em relação a 2024, mas não respondeu se haverá mudança nos critérios ou redução da nota mínima exigida
O pé-de-meia licenciatura
Mas final de contas, o que é o Pé-de-meia licenciatura? Trata-se de uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC), por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do programa Mais Professores para o Brasil.
De uma maneira geral, objetivo do projeto é fortalecer a educação básica no país, incentivando a formação de novos docentes.
Todos os meses, alunos que estão estudando para se tornarem professores recebem um montante em dinheiro para que não desistam do curso, e consigam se formar da maneira mais tranquila possível.
Os valores de pagamentos
Mas para muita gente, o que interessa mesmo é saber quanto o governo federal vai pagar para os cidadãos que desejam entrar no Pé-de-meia licenciatura.
Segundo o governo federal, a ideia é realizar um pagamento mensal no valor de R$ 1.050. Este montante, no entanto, vai ser dividido em duas partes. São elas:
- R$ 700 liberados para saque imediato;
- R$ 350 depositados em uma poupança, que só poderá ser resgatada após a conclusão do curso, desde que o estudante atue como professor da rede pública por pelo menos cinco anos.
“Há um desestímulo das pessoas para serem professores e nós fomos buscar experiências de vários lugares do mundo inteiro, inclusive, estamos lançando em breve com o presidente Lula um conjunto de medidas para estimular o magistério e que pessoas façam licenciatura”, disse o ministro da Educação, Camilo Santana.