Em meio a um cenário de crise financeira nos Correios, a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras (Findect) enviou um ofício ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No documento, datado de 13 de maio, a entidade cobra medidas urgentes para enfrentar os impactos do novo plano estratégico da empresa e garantir a preservação dos direitos dos trabalhadores, incluindo os aprovados nos concursos públicos.
A preocupação da Federação é que o plano, recentemente anunciado pela direção dos Correios, interfira na convocação dos aprovados e represente cortes que afetem diretamente os profissionais da estatal.
A crítica ao plano dos Correios
A Findect chama atenção para a retirada de quase R$ 3 bilhões em dividendos entre 2011 e 2013, mesmo em um cenário de prejuízo, o que teria comprometido a capacidade de investimento da empresa.
A denúncia se baseia em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), que alerta para a redução de mais de 92% no patrimônio líquido da estatal até 2016.
A recomposição parcial desses recursos, segundo a Federação, é fundamental para a retomada de investimentos em áreas estratégicas, como:
- Modernização dos centros operacionais;
- Ampliação do marketplace dos Correios.
As propostas da Federação
O ofício, enviado também ao vice-presidente Geraldo Alckmin e a ministros do governo federal, apresenta uma série de reivindicações. Abaixo, você pode conferir algumas delas:
- Devolução parcial dos dividendos pagos entre 2011 e 2013;
- Destinação dos R$ 3,8 bilhões captados junto ao New Development Bank para investimentos internos;
- Criação de um Comitê de Crise com participação dos trabalhadores;
- Suspensão de medidas que afetem direitos dos empregados durante as negociações;
- Apoio à revogação da Lei 14.902/24 (a chamada “taxa das blusinhas”);
- Compromisso com a valorização dos Correios como empresa pública estratégica.
Além disso, a Federação solicitou uma audiência com o presidente da República para debater pessoalmente os temas.
Medidas dos Correios que podem ter impacto direto na vida dos trabalhadores
No mesmo período, a direção dos Correios anunciou um plano de contenção de despesas, que atinge diretamente os cerca de 86 mil trabalhadores da empresa. As ações previstas incluem:
- Redução de 20% no orçamento de cargos comissionados;
- Incentivo à redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias;
- Suspensão temporária das férias adquiridas em 2025, com retorno previsto para janeiro de 2026;
- Prorrogação das inscrições do Programa de Desligamento Voluntário (PDV);
- Retorno obrigatório ao trabalho presencial a partir de 23 de junho de 2025;
- Mudanças nos planos de saúde, com estimativa de economia de 30%;
- Lançamento de um marketplace próprio ainda em 2025;
- Investimentos internos com recursos do New Development Bank.
A suspensão das férias e a redução de jornada provocaram reações imediatas. A Findect já anunciou que ingressará com uma ação judicial para garantir os direitos trabalhistas previstos na CLT e na Constituição Federal.
A entidade também pretende instalar uma mesa de negociação permanente com a direção dos Correios, exigindo transparência e participação sindical em todas as mudanças.
“Qualquer alteração que impacte diretamente os direitos da categoria deve ser discutida com responsabilidade e transparência”, afirma a Federação.
E o concurso público?
Mas o que interessa para muita gente mesmo é a questão do concurso dos Correios. Afinal, até que ponto esse novo projeto de cortes na estatal vai impactar os certames?
O concurso dos Correios, realizado em 2024, teve homologação em abril deste ano e oferece 3.511 vagas, sendo 3.099 para nível médio e 412 para nível superior.
Com validade até abril de 2026, as contratações ainda podem ocorrer, mas não há confirmação oficial sobre o início das convocações.
Além disso, o superintendente dos Correios em Brasília chegou a mencionar a possibilidade de um novo concurso para o cargo de atendente comercial, mas, diante do atual cenário de cortes e reorganização, a realização dessa nova seleção torna-se incerta.